quarta-feira, 23 de julho de 2008

Não Cremos na Dor sem Deus


Não Cremos na Dor sem Deus
por
Ronaldo Lidório
Sempre lembramos de Atos como um livro que descreve um Deus que intervém sobrenaturalmente. São línguas de fogo sobre os discípulos, coxos andando, demônios exorciza dos, anjos socorrendo os apóstolos e até a sombra de Pedro transformada em instrumento de cura. Mas nem sempre era assim: Estêvão foi martirizado, Paulo preso e açoitado, discípulos fiéis mortos ao fio da espada e lançados aos leões. Além da nossa finita lógica e curta compreensão da história, entre milagres e tragédias, o Senhor Jesus era glorificado e a igreja avançava. A expectativa do povo de Deus é sempre ver a resposta do Senhor em meio ao sofrimento. Mas Atos mostra-nos uma verdade aplicável ao nosso dia-a-dia: nem sempre Deus intervém sobrenaturalmente. Porém Ele não deixa de ser o senhor da situação. Em face da tragédia pessoal, somos convidados a compreender que é preciso olhar além da vida e entender que o projeto maior de nossa existência — glorificar a Deus — não pode ser revogado. O sofrimento possível Em Atos 8, Lucas relata que “levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém” (v. 1) e escolhe o termo grego diogmos para definir “perseguição”. Distintamente de efistamai (ataque), a expressão diogmos está ligada ao sofrimento físico: causar dores, fazer sofrer, punir com sofrimento. A igreja experimenta de forma violenta o amargo sofrimento e Lucas descreve este diogmos: o sepultamento de Estêvão, a prisão dos fiéis e a dispersão. Mas, inspirado, ele vai além. Ao mencionar o martírio de Estêvão (v. 2), relata que houve um grande “pranto”, usando o termo kopeton, que pode ser lido literalmente como “bater no peito” e indica o sofrimento emocional, a dor da alma, o choro inconformado do coração. Ao lado de diogmos, apresenta um sofrimento físico (fuga, prisões, martírio e espancamentos) e emocional (medo, insegurança, saudade e depressão). O historiador afirma ainda que Saulo “assolava” a igreja (v. 3), utilizando elumeinato. Este termo, derivado de lumaino, aponta para uma assolação (destruição) não apenas física e emocional mas também espiritual. É o mesmo termo usado em João 10.10, em que lemos que o diabo veio roubar, matar e “destruir”. O primeiro relato de Atos 8 é surpreendente: descreve a igreja sofrendo forte ataque físico (diogmos), emocional (kopetos) e espiritual (lumaino). O contexto não centraliza a igreja, mas sim o ataque a ela perpetrado, o esquema maligno do qual a comunidade de Jesus era alvo, a oposição sobre-humana que atacava o corpo, fazia doer a alma e tentava solapar a fé. A igreja sofria. O sofrimento continua presente entre o povo de Deus hoje. A violência impera na família, vidas são ceifadas em trágicos acidentes, a enfermidade não abandona o corpo, o desemprego e as dívidas tiram o sono, a depressão se abate profusamente sobre a alma e a fé é provada no fogo. Mas a fidelidade do Pai mostra-nos que, no mais terrível sofrimento, Ele continua sendo Deus, nunca se ausenta. Mesmo quando silencia, no momento em que preferiríamos um poderoso e miraculoso grito, Ele continua sendo Pai e Senhor. Quando Deus se cala é preciso olhar além da vida, em total dependência, e crer que Ele é maior do que os homens.

Cantamos um hino aqui em Gana que diz:

Não vivemos para celebrar o sofrimento;

Nem também para chorar;

Mas quando ele vier choraremos;

No sofrimento há Deus; Não cremos na dor sem Deus,

Não cremos na dor sem Deus.

O Deus do impossível Mas existe o outro lado da moeda, que nos incita a esperar contra a esperança e crer no Deus dos milagres. Entender o sofrimento como algo possível não implica em perdermos a expectativa de ver Deus abrir os céus e agir. Geneticamente, na linguagem da fé, nascemos em Cristo com a tendência de crer no impossível.

Voltando a Atos 8, vemos que a igreja sofria pois “foram dispersos pelas regiões de Judéia e Samaria” (v. 1); “Entrementes os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra” (v. 4).

Mesmo no sofrimento, Deus faz a história caminhar para glória do seu nome e o avanço da sua igreja.

O evangelho sofre com o martírio de Estêvão, homem cheio do Espírito Santo (v. 2). Cai um grande líder e incansável pregador. Mas Deus levanta Filipe, também cheio do Espírito, que “descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo” (v. 5).

Muitos são arrastados e encarcerados após o grande pranto sobre Estêvão, a igreja se dispersa e a violência assola famílias inteiras (v. 3).

Tristeza e melancolia era o que se esperava, mas no final “houve grande alegria naquela cidade” (v. 8).

Deus faz o impossível no corpo, na alma e na fé do seu povo. Em nossa vida, Deus nunca será surpreendido.

A despeito do possível caos, das inúmeras derrotas, do vazio no coração, da falta de fé, da ausência de respostas, Deus nunca foi nem jamais será surpreendido pelo que possa nos roubar a expectativa de um dia voltarmos a ser felizes. Ele detém o direito autoral de escrever cada capítulo da nossa existência.

É soberano e tem o domínio da nossa história, mesmo quando se cala. Mas Deus não somente se cala. Ele também fala. Por isso, perante qualquer obstáculo, devemos crer que o Deus dos impossíveis pode fazer o impossível acontecer. Mesmo quando o sofrimento vem, Deus permanece no controle de tudo e, portanto, no controle do nosso sofrimento. Olhar além da vida é olhar para o projeto maior na mente do Senhor, é reconhecer que Deus é maior que o homem, que a sua glória importa mais do que a nossa.

Como diz o cântico, não cremos na dor sem Deus.

Liderança e Integridade de coração

“Nada do que tocamos é eterno”
Esta é uma frase de Charles Kerman que nos ajuda quando tentamos responder a seguinte pergunta: quais são os critérios com os quais Jesus julga a minha vida ?

Frequentemente julgamos a vida alheia a partir de valores mais externos, contábeis e visíveis, do que pelo que se passa no coração. E assim nos encantamos com homens, histórias, livros e lideranças que não encantam a Deus.

A presente sociedade leva-nos a crer que somos aquilo que aparentamos e não são raras as vezes que somos julgados pelos nossos títulos, realizações, influência e tantas outras credenciais que tentam plasticamente definir nossa aparência pública. Entretanto, no Reino de Deus, pregado por Jesus, estas roupagens não representam a nossa identidade, quem de fato somos.

Possuimos uma tendência natural para nos escondermos. Somos, portanto, seres construtores de máscaras. Construímos máscaras com o mesmo intuito que o fazem os povos tribais em rituais xamânicos: para o engano do próximo e manipulação social. Creio que as máscaras que somos tentados a construir possuem, em um primeiro momento, a intenção de apresentar uma imagem que julgamos ideal para os de longe. Comumente esta imagem não representa a verdade do nosso ser mas sim uma idéia utilitária que tentamos exportar. Se temos sucesso na construção de máscaras que vendam esta imagem aos de longe somos tentados a construir máscaras mais elaboradas, refinadas, que possam enganar também os de perto. É por isto que podemos nos surpreender com alguém bem perto de nós, de nosso círculo de amizade e relacionamento, que repentinamente se desvenda como portador de valores e práticas antagônicas com a imagem que dele tínhamos. É que não o conhecíamos. Olhávamos para ele mas enxergávamos sua máscara. Mas não paramos aí.

Como seres construtores de máscaras, ao chegarmos no ponto do engano coletivo aos de longe e perto nos propomos a uma nova empreitada, ainda mais desafiadora: construir máscaras que enganem não apenas o outro mas a nós mesmos. Chamo tais máscaras de máscaras do auto-engano. Aconselhava um cristão que se surpreendeu consigo mesmo ao trair a confiança de um líder que amava e admirava. Em meio a lágrimas exclamou: como pude fazer isto ? Então pensei: quantas vezes esta pergunta nos persegue? O auto-engano não é apenas possível mas infelizmente frequente. Pode levar homens e mulheres e jamais confrontarem suas mazelas e pecados levando-os a viverem como se tudo estive bem.

A construção de máscaras de engano e auto-engano é uma prática pecaminosa que nos leva para longe de uma conversa franca e necessária sobre a nossa vida, fugindo assim de um dos assuntos mais controvertidos e evitados pelo homem desde sua queda: a verdade.

No Reino da luz a verdade é o fundamento para qualquer avaliação. Não por acaso a Palavra nos diz que ela nos libertará. A ausência da verdade, por outro lado, nos mantém cativos às mesmas masmorras psíquicas, volitivas e comportamentais de sempre. E o auto-engano, quando a psiquê humana mente para ela mesma tentando racionalizar o pecado e a fraqueza, torna-se uma das fortes oposições à verdade.

O elemento principal com o qual Jesus nos avalia é bem menos visível, menos contábil e certamente menos observado por aqueles que nos cercam pois Ele nos vê no íntimo, sem máscaras, manipulações ou enganos. A Palavra usa expressões como “coração puro[1]”, “de todo o teu coração”[2], “integridade do coração”[3], e “santidade ao Senhor”[4]para nos fazer entender que somos mais avaliados por Cristo pelas coisas do coração e não pela nossa roupagem.Entenda claramente algo: Jesus conhece o secreto da sua vida. Ele certamente não se impressiona pelas grandes construções que levantou, realizações aplaudidas por multidões ou teses defendidas debaixo dos holofotes. O Carpinteiro olha direto para o seu coração e vasculha a sua alma. E é justamente neste campo que você será encontrado fiel, ou não.

Em 1 Samuel 16 o profeta buscava o ungido do Senhor entre os filhos de Jessé. Antes de indicar Davi, que viria a ser rei sobre Israel, o Senhor diz a Samuel: “... Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque eu o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”.

William Hersey Davis, tentando fazer-nos diferenciar entre a ilusão do palco e a realidade da vida, compara caráter e reputação quando diz:


“As circunstâncias nas quais você vive determinam sua reputação.

A verdade na qual você crê determina o seu caráter.

Reputação é o que pensam a seu respeito.

Caráter é quem você é.

Reputação é a sua fotografia.

Caráter é a sua face.

A reputação fará de você rico ou pobre.

O caráter fará de você feliz ou infeliz.

Reputação é o que os homens dizem a seu respeito no dia do seu funeral.
Caráter é o que os anjos falam de você perante o trono de Deus”[5].

É certo que não podemos purificar nosso próprio coração. Dentre tantas verdades marcantes do Cristianismo uma delas é esta: nós dependemos de Deus. E dependemos dEle para crer, para segui-lo e para nos parecermos mais e mais com o Filho. Assim creio que o objetivo de Cristo é tão somente levar-nos a orar como o salmista: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro em mim um espírito inabalável[6]”.

Ativistas cristãos presos há três meses são libertados

Jornalistas, advogados, pastores, familiares e amigos se reuniram na casa de Adel Fawzy Faltas, na cidade do Cairo, para comemorar a absolvição e libertação do líder da Associação Cristã do Oriente Médio (MECA, sigla em inglês) e de um obreiro, na segunda-feira passada, dia 5 de novembro. Adel, 61anos, e seu colega Peter Ezzat, de 25, foram presos depois de terem sido acusados de insultarem o islã e mancharem a reputação do Egito no exterior (leia mais).
As acusações não foram comprovadas. Adel fez uma entrevista polêmica com um ex-mulçumano dias antes de sua prisão em 8 de agosto. Adel sorria, usando bermuda e tênis, enquanto era rodeado por pessoas que o cumprimentavam em seu apartamento. Ele parecia não se preocupar com o fato de suas roupas e outros bens pessoais confiscados ainda não terem retornado."Sempre fui um homem livre", disse Adel enquanto tomava um café. "Quando uma pessoa se respeita e também àquilo que faz, é livre". Adel relembrou como aproximadamente 30 oficiais da Investigação de Segurança do Estado (SSI, sigla em inglês) e policiais à paisana invadiram sua casa às 2:30 da manhã do dia 8 de agosto.
Momento mais difícilSegundo ele, a parte mais difícil foi passar as primeiras duas semanas na solitária, uma cela de 1,75m de cumprimento por 0,75 m de largura, sem cadeira. Finalmente o promotor de justiça Muhammad al-Faisal ordenou que tanto Adel quanto Peter fossem transferidos para uma cela comum com mais 60 homens na prisão Tora, no Cairo. Muitos dos homens tinham sido condenados por assassinato ou tráfico de drogas. "O promotor era um bom homem", disse Adel. "Ele proibiu que me mandassem novamente para a solitária, e sempre permitiu que meus advogados se encontrassem comigo". De seu escritório no quartel general da SSI em Novo Cairo, o promotor renovou a prisão dos cristãos por cinco vezes durante o período de três meses. Ele nunca disse o motivo para as quatro prisões de 15 dias e a prisão final de 30 dias. Para Adel, uma das maiores tristezas em sua prisão foi ter perdido o casamento de sua filha, que aconteceu no dia 20 de outubro, no Cairo. As acusações contra Adel e Peter, que nunca foram comprovadas, incluíam insultar o islã, forjar ameaça à segurança nacional e manchar a imagem do Egito no exterior. "Nós nunca publicamos caricaturas do Alcorão em nosso site", disse Adel, respondendo às acusações do promotor.
O presidente da MECA no Egito disse ao Compass que as caricaturas foram publicadas em um site chamado www.themeca.com, enquanto o endereço do grupo é: www.m-e-c-a.com. Adel sustenta que os membros da organização MECA rastrearam a origem do site falso até a Arábia Saudita. Captura de PeterPeter aproveitava a reunião com seus amigos, sua mãe e seu irmão, e descreveu sua captura e prisão."Eu estava em casa tirando uma soneca às 14:00 quando fui acordado com o barulho da porta da minha casa sendo arrombada", disse Peter. "Quando abri a porta do meu quarto, havia uns 10 soldados e cinco oficiais apontando suas metralhadoras para a minha cabeça". Peter disse que os oficiais o derrubaram no chão, vendaram-no e amarraram suas mãos. Os soldados fizeram uma "limpeza" em seu quarto, confiscaram seu computador, câmera fotográfica, celulares e todos os seus CDs e fitas cassetes. "Por muitas vezes pensei que eles nunca fossem nos soltar", contou o alemão, que trabalha no site da organização MECA. "Cada vez que íamos ao tribunal, eles simplesmente renovavam a prisão sem nenhum interrogatório". Na festa, membros da organização cristã vestiam camisetas pretas com fotos de Adel e Peter pedindo pela libertação dos dois. Durante toda a noite, as pessoas se reuniam em torno de um laptop para ouvir mensagens para os ativistas de pessoas de todo o mundo que se encontravam na sala de bate-papo do site da organização. Os jovens presentes se aglomeravam em torno de Peter, um rapaz tímido que não conseguia esconder o sorriso de felicidade por sua liberdade. Mantendo os coptas calados A MECA, organização cristã com sede no Canadá, que começou com suas atividades no Egito há apenas 10 meses, já desafiou o governo corajosamente em vários assuntos delicados. "É comum que o governo prenda ativistas de tempo em tempos", declarou o porta-voz da MECA, Wagih Yaob. "É uma maneira de calar os coptas." Em julho, os advogados da MECA entraram na justiça egípcia contra o governo em favor de cristãos que tiveram sua vila destruída num transtorno que durou três dias, em janeiro de 2000. Pelo menos 21 coptas foram mortos, 18 feridos e centenas tiveram suas casas destruídas em um ataque muçulmano a cristãos na cidade egípcia de El-Kosheh.
Os ativistas da MECA também foram rápidos em publicar o caso de um muçulmano que se converteu ao cristianismo e que está processando o governo para garantir seu direito de alterar seus documentos para que eles reflitam a mudança ocorrida em sua vida. Adel entrevistou Mohammed Ahmed Hegazy em uma sala de bate-papo online na semana anterior à sua prisão. Desde que Adel foi preso, Mohamed está escondido por causa de ameaças de morte. A apostasia é um assunto delicado no Egito. Vários intelectuais mulçumanos acreditam que, segundo a lei islâmica, considerada sagrada pela constituição egípcia, os que deixam o islã merecem a morte. Mais fortes do que nunca "O governo nos disse que se cortasse nossas cabeças, o restante desmoronaria", disse Wagih Yaob. "Mas a prisão nos fez mais fortes porque agora todo mundo conhece nossa história". A MECA disse que a prisão de seus ativistas aumentou a confiança do público e a publicidade do grupo. "Ninguém nos conhecia antes deste incidente, agora o mundo todo sabe o nosso nome", disse um dos membros da organização. Adel, ginecologista aposentado, conheceu o fundador da MECA em uma sala de bate-papo online sobre direitos humanos no Egito. "Um dia, eu entendi que insultar as pessoas se utilizando de um apelido não era a solução", brincou Adel. Aposentado e com os filhos (um homem e uma mulher) fora de casa, Adel conta que começou a trabalhar na preparação para a vinda da MECA para o Egito. O grupo entrou com o pedido de registro em junho, mas ainda não recebeu uma resposta definitiva do governo. Sentado em seu apartamento hoje, Adel disse que esperava que o governo egípcio tratasse a MECA de uma maneira melhor, uma vez que puderam perceber que a organização trabalha para o bem do país. "Somos o alarme da nação", disse Adel. "Nós queremos ter um olhar microscópico sobre os problemas relativos aos direitos humanos e à discriminação".
Tradução: Priscila Figueiredo